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Potencial

A Amazônia no PIB

Marcelo Thomé

Arquiteto e empresário da construção civil. Presidente da Federação das Indústrias do Estado de Rondônia, também preside a Ação Pró-Amazônia, associação que reúne as nove federações das indústrias dos estados da Amazônia Legal. CEO do Instituto Amazônia+21, voltado para a promoção de negócios sustentáveis na Amazônia.

22/07/2022

O Liberal Amazon me abre este bom espaço para debater a Amazônia, o que procuro fazer sempre com um olhar esperançoso quanto a nossa capacidade de construir um projeto brasileiro de desenvolvimento sustentável. Mas estamos pertinho das eleições e sinto necessidade me iniciar aqui, como colunista, tratando das desigualdades regionais. Enquanto o Brasil não virar esta chave, seguiremos com os pés acorrentados à agenda do Século 19, sendo o déficit de saneamento básico o mais gritante dos nossos males negligenciados. E os avanços que engendrar na direção do Século 21 ficarão restritos aos polos de desenvolvimento mais consolidados do Sul e Sudeste, agravando, portanto, as desigualdades regionais.

Nossas forças políticas e econômicas precisam lembrar que a Amazônia Legal representa 59% do território brasileiro. Mais da metade do nosso mapa precisa ser incluído na economia brasileira. E não apenas para desenvolver a região, mas para possibilitar ao Brasil um projeto de desenvolvimento sustentável. Um olhar além das nossas fronteiras continentais, pensando os desafios e oportunidades da globalização, nos impõe a certeza de que o PIB brasileiro precisa não apenas incluir a Amazônia na economia, mas incentivar o protagonismo da região, que pode garantir a sustentabilidade de uma economia verde, ampliada em cadeias de produção estruturadas e distribuídas em todo o país, conforme as vocações regionais.

O desenvolvimento do país não se sustentará nos limites do Sul e Sudeste. É urgente despertar para o potencial de outras regiões. Prioridade no orçamento público, incentivos fiscais e regimes tributários diferenciados para induzir investimentos nas regiões Norte e Nordeste não podem continuar sendo taxados de paternalismo ou coisas mais preconceituosas. Na verdade, tais incentivos sequer existem, pelo menos no volume, forma e continuidade necessárias. E antes de uma concessão da Federação, seriam o pagamento de uma dívida histórica inscrita na contabilidade social da Constituição de 1988.

Combater as desigualdades regionais também é diminuir o drama social que humilha a cidadania no Nordeste e no Norte. Mais de 28 milhões de brasileiros vivem na Amazônia Legal, a grande maioria em condições de vida já inadmissíveis no início do Século 20. Quanto mais entramos no interior da Amazônia, mais isso se agrava. O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) atesta que 33 cidades da região estão entre as 50 piores do país em desenvolvimento social.

Sem uma política de integração econômica da Amazônia o Brasil não terá lastro para cumprir as metas que o Governo do Brasil assumiu na COP 26, em Glasgow: zerar as emissões líquidas de gases de efeito estufa até 2050, com redução de 50% até 2030; diminuir em 30% as emissões de metano até 2030; e eliminar o desmatamento ilegal até 2028.

Logo teremos eleições e todas as candidaturas presidenciais mostram boas intenções quanto a conservação do bioma amazônico e iniciativas por uma economia de baixo carbono. Mas devemos exigir mais dos nossos futuros governantes e parlamentares. O mínimo é fazer a Amazônia protagonista de um projeto nacional de desenvolvimento sustentável. É isso ou o Brasil morrerá nas praias do Sul, abraçado às desigualdades regionais.