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PERSPECTIVAS PÓS-EVENTO

Capacitação para a COP 30 mira o futuro

Pará tem mais de 12 mil vagas abertas em cursos voltados para a qualificação técnica e profissional da população

Camila Azevedo

16/05/2024

A aproximação da 30ª Conferência das Partes das Nações Unidas (COP 30), evento que será realizado em 2025 em Belém, promove uma corrida contra o tempo da população do Pará em busca de maior capacitação técnica e profissional. O objetivo da qualificação não fica restrito ao atendimento de mais de 70 mil visitantes que devem estar na cidade para esse que é considerado o maior encontro global sobre o clima, mas visa ao futuro de oportunidades que poderá ser proporcionado pelo contingente e pela visibilidade do momento.

Instituições como o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), por exemplo, passaram a oferecer cursos voltados à capacitação necessária em diversos eixos temáticos, como turismo, produção alimentícia, construção civil, meio ambiente e empreendedorismo, todos pensados em como fornecer conhecimento necessário para a COP 30 e para as possibilidades que devem vir a partir do megaevento.

No Senai, mais de 5,3 mil vagas em cursos de aperfeiçoamento e de qualificação serão oferecidas até a COP: de técnicas em hidráulica, eletricidade predial, instalador e pintor até ensinos sobre boas práticas de manipulação de alimentos e cozinha paraense. Belém, Castanhal e Santarém entraram no rol de cidades que estão recebendo as aulas disponibilizadas, devido ao potencial de crescimento existente. A estratégia é fomentar o mercado que já existe e prepará-lo para as demandas futuras.

Portas abertas

Para uma das alunas do curso de Instalador Hidráulico Predial ofertado pelo Senai, as portas abertas que a COP deve oferecer em Belém representam uma chance de mudança. Débora Albuquerque, de 30 anos, conta que o objetivo é conseguir um trabalho na área – para ela, já existe uma tendência de crescimento do setor na cidade. “Eu e meu marido já temos uma oficina de marcenaria, trabalhamos com móveis modulados e sempre surge, em prédios que vamos fazer o trabalho, o interesse de quem sabe instalar tubulações”, afirma.

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No Senai, mais de 5,3 mil vagas em cursos de aperfeiçoamento e de qualificação serão oferecidas até a COP (Foto: Cristino Martins / O Liberal)

A estudante soube do curso por meio de um amigo e a identificação com a parte hidráulica foi imediata. “Então, vai unir os dois, o útil e o agradável, e está sendo maravilhoso [o curso], porque eu não sabia nada de tubulações e agora sei. Tem a tubulação específica para água quente, específica para água fria, tubulações para esgoto e como você tem que proceder, as normas… Tudo isso. E ainda falta muito, tem muita coisa para a gente aprender ainda, mas está ótimo, eu estou adorando”, completa Débora.

Adesão

As vagas estão sendo oferecidas pelo Senai de forma escalonada até a chegada da Conferência. No primeiro momento, 897 oportunidades de capacitação estavam disponíveis. Davis Siqueira, gerente executivo de educação profissional da instituição, destaca que a adesão dos interessados é de 100% nas modalidades presencial e à distância. “São cursos de qualificação profissional, a partir de 160 horas. A nossa ideia, enquanto instituição, não é só formar para o mercado de trabalho, mas para o exercício pleno da cidadania”.

O ensino abarca todos os lados da profissão para que os alunos tenham acesso completo. “Nosso aluno vê desde a parte teórica, até a prática. Posso dizer que 70% dos nossos cursos são práticos. Então, a nossa ideia é que as pessoas estão sendo profissionalizadas para atender a COP e sua demanda. Depois da COP essas pessoas, com o certificado do Senai, que vale em todo o território nacional, poderão exercer suas profissões em qualquer estado deste País”, acrescenta Davis.

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Estratégia é fomentar o mercado que já existe e prepará-lo para as demandas futuras (Foto: Cristino Martins / O Liberal)

Demanda

Os cursos que envolvem boas práticas na fabricação de alimentos e os de pedreiro de alvenaria estão entre os mais procurados – o mercado de trabalho, segundo o Senai, já começa a mostrar reação para esse segmento. “Temos demandas explícitas para eletricista, instalador residencial, para mecânico de refrigeração, entre outros cursos. Se você olhar, a nossa capital tem prédio para todos os lados. É uma demanda que nós temos também para o atendimento da COP, para as grandes obras que vão chegar”, diz Davis.

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“Muitos devem ir até Santarém para conhecer Alter do Chão”, diz o gerente executivo Davis Siqueira (Foto: Cristino Martins / O Liberal)

Formação chega a Santarém

O setor de bares e restaurantes, em zonas turísticas do Pará, também está sendo impulsionado pelo movimento que a Conferência já está trazendo. Em Santarém, o Senai tem uma turma voltada para esse segmento e o que o rodeia: fabricação de alimentos, distribuição logística, operador de processos e de computadores. “A gente entendeu que muitos devem chegar em Belém, mas muitos devem ir até Santarém para conhecer Alter do Chão”, diz o gerente executivo Davis Siqueira.

“Então, a gente precisa entender que aqueles bares, que aqueles restaurantes, que aquelas pessoas que ali estão também precisarão ser capacitados para atendimento desse público que chegará”, conclui Davis.

Ilhas

As ilhas de Belém, como Cotijuba e Combu, registraram um grande interesse por parte da população em qualificação para a COP. O movimento levou o Sebrae a criar turmas voltadas para o aprendizado na questão de mobilidade urbana e atendimento em restaurantes. Fabrícia Siqueira, analista da instituição no Pará, explica que esse processo começou com palestras de sensibilização e apresentação do que será a Conferência das Partes e a importância dela para a região.

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“Os cursos contribuem para a formação da população, para o futuro. Nossa projeção é de serem oferecidas, por mês, 18 turmas de 30 vagas, comando 540 vagas por mês até a COP”, ressalta a analista (Foto: Sebrae)

“Conversamos com as lideranças locais para fazer a mobilização das pessoas para se fazerem presentes nas capacitações. Temos gestores e eles fazem a mobilização das pessoas para participar das capacitações junto com as lideranças. A procura nas ilhas foi muito grande. Tanto em Cotijuba, quanto no Combu, tivemos buscas com mais de 100 pessoas. Em maio, vamos fazer duas turmas, para ver se conseguimos diminuir a quantidade em sala. Queremos dividir para não cair a qualidade”, frisa Fabrícia.

Cursos de alimentos e bebidas e economia criativa, voltada para o artesanato são alguns dos oferecidos pelo Sebrae. As aulas precisaram ser adaptadas de acordo com a realidade de cada região. No Combu, os moradores preferiram que fossem pela parte da noite, devido à dinâmica do local. Já em Cotijuba, o horário escolhido foi pela manhã. “Os cursos contribuem para a formação da população, para o futuro. Nossa projeção é de serem oferecidas, por mês, 18 turmas de 30 vagas, comando 540 vagas por mês até a COP”, ressalta a analista.

Legado

Além das ilhas, Belém, Ananindeua e Marituba estão no eixo do Sebrae. Ao todo, cerca de 600 pessoas já foram capacitadas. “Para nós, é um cenário muito bom. As pessoas estão interessadas, estão começando a entender que [a COP] é um evento mundial, de grande valia para o estado, e começando a se capacitar para o negócio delas. Os que não tem negócio próprio, mas veem visão do evento, vem buscar se capacitar para abrir seu empreendimento e ter viabilidade nele”.

“A gente tem trabalhado com nossos pequenos empreendedores que estão se formando para um evento e que essa formação não é pontual, vai se engrandecer muito. Quando o evento acabar, vai ficar uma cidade mais estruturada, para que você possa até mesmo expandir seu negócio, vai ter uma musculatura melhor de empresariado”, finaliza Fabrícia.

Programa Capacita COP 30 tem 12 mil vagas

O Senai e o Sebrae atuam no âmbito do Capacita COP 30, programa que disponibiliza cursos voltados para a qualificação técnica e profissional. São mais de 12 mil vagas. A iniciativa também tem como objetivo impulsionar a economia do Pará com estratégias para desenvolver a geração de emprego e aumentar a produção de setores que fazem parte da esfera. Hana Ghassan, vice-governadora do estado e Coordenadora-Geral do Comitê para a COP 30, afirma que a principal demanda é alavancar a cadeia turística local.

“[Isso é] Visando aproveitar a hospitalidade natural do paraense para, através da profissionalização, transformar nossa vocação em um modelo de negócios. As qualificações mais procuradas são de língua estrangeira, com foco na língua inglesa, e também cursos ligados a turismo e hospitalidade. A procura por cursos na área da construção civil também está sendo um destaque positivo, pela possibilidade de atuação nas obras da COP”, diz.

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“As qualificações mais procuradas são de língua estrangeira, com foco na língua inglesa, e também cursos ligados a turismo e hospitalidade. A procura por cursos na área da construção civil também está sendo um destaque positivo, pela possibilidade de atuação nas obras da COP”, diz Hana Ghassan, vice-governadora do estado e Coordenadora-Geral do Comitê para a COP 30 (Foto: Agência Pará)

Mulheres

As mulheres são a maioria dos inscritos no programa, representando 70% do total. “A certificação dessas pessoas através do Capacita é o legado humano da COP que, para nós, é tão importante quanto o debate ambiental. Só poderemos falar de preservação da natureza se a nossa população tiver acesso a emprego e renda sem que haja necessidade de explorar as nossas riquezas naturais de forma predatória, e a capacitação certamente é o caminho para isso”, conclui a vice-governadora.

Servidores municipais recebem treinamentos

Além dos cursos voltados para feirantes da cidade, na perspectiva da COP, os servidores de Belém, sede do evento mundial, também estão em preparação. As aulas são voltadas para a educação ambiental da Amazônia, no contexto das mudanças climáticas.
Jurandir Novaes, secretária municipal de Administração, pasta responsável pela política de formação no conjunto de investimentos que a capital paraense destina para a COP, explica que a iniciativa envolve diversas fontes de aprendizado.

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“Temos, com o Instituto Federal do Pará [IFPA] cursos de espanhol para servidores da área de assistência, que trabalham com migrantes indígenas e refugiados”, diz Jurandir Novaes, secretária municipal de Administração (Foto: Semad)

“Temos, com o Instituto Federal do Pará [IFPA] cursos de espanhol para servidores da área de assistência, que trabalham com migrantes indígenas e refugiados. As formações envolvem comunidades e pessoas que estão no processo de organização da conferência. São grandes temas que estamos trabalhando, desde saneamento, projetos urbanos e gestão pública, até mudanças climáticas. Tem uma dinâmica pré-COP de crescimento de emprego aqui, então, precisamos de mão de obra qualificada”, diz a secretária.